Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 22 de Agosto de 2025

Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 22 de Agosto de 2025

Por Antonio Glauber Santana Ferreira – Japaratuba-SE


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Abram o jornal, que hoje não é feito de celulose, mas de metáforas enroladas em rolos de ironia. É 22 de agosto, Dia do Folclore, e o Brasil amanheceu vestido de cores, tambores, cordéis e contradições.

Na quadra da Escola Municipal Professor Emiliano Nunes de Moura, em Japaratuba, o chão não era de cimento, era de poesia batucada. Ali, onde os alunos são atores e as professores(as) são diretores(as) de um espetáculo ancestral, nasceu o 1º Encontro de Grupos Folclóricos Mirins de Japaratuba. O Cacumbi Mirim da Escola Municipal Professor Emiliano Nunes de Moura foi o destaque, o Cacumbi, menino-herdeiro da tradição, marchou com passos pequenos mas carregados de séculos. A escola virou terreiro, palco e templo, e quem assistiu podia jurar que viu a alma de Japaratuba dançando. Se apresentaram também grupos da Escola Estadual Gonçalo Rollemberg e da Escola Municipal João Prado que foram convidados para festa. Ah, se todos soubessem: quando a cultura entra pela porta, a ignorância foge pela janela.
Parabéns alunos(as), professores (as), servidores da escola , equipe diretiva e toda comunidade escolar. 

Mas a página seguinte do jornal traz o choque: enquanto Japaratuba planta cultura, há quem colha golpes. Um sujeito criativo — mas criativo do avesso — resolveu vender cartas de consórcio que não existiam. Resultado: meio milhão de reais evaporou das mãos das vítimas como fumaça de incenso ruim. É o folclore do estelionato moderno: o Saci perdeu a perna num consórcio, o Curupira virou corretor, e a Mula-sem-Cabeça agora atende pelo nome de "prejuízo".

E se a cultura dança, o sertão chora. Carira e Tobias Barreto decretaram emergência por causa da estiagem. O chão, rachado como lábios de criança sem água, pede socorro. Os rios secam como se fossem canetas sem tinta, e o sertanejo, esse Dom Quixote de chapéu de palha, continua lutando contra o moinho invisível da seca. Mas a política, essa dama de salto alto, ainda prefere desfilar em palanques ao invés de carregar baldes.

Do outro lado do noticiário, um ex-assessor do TSE, Eduardo Tagliaferro, foi denunciado por agir contra investigações de atos antidemocráticos. A acusação: obstruir a democracia como quem coloca cadeado no sol. Violação de sigilo, tentativa de sufocar a verdade, e até o crime de querer derrubar o próprio Estado Democrático de Direito. É como se ele quisesse pintar de cinza a bandeira verde e amarela — mas esqueceu que tinta ruim desbota no primeiro trovão da história.

Enquanto isso, o planeta gira na cadência da comédia política internacional. Nos EUA, o FBI fez buscas na casa de John Bolton, ex-assessor de Trump. Bolton, aquele senhor de bigode que parece saído de desenho animado, criticou o governo. Trump respondeu chamando-o de "desprezível". É a velha guerra de egos: um acha que é Churchill, o outro acha que é Napoleão, mas no fim ambos parecem personagens de novela mexicana brigando por herança.


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Reflexão final

Se o Folclore é memória coletiva, o noticiário é o folclore em tempo real. Temos a dança que resgata tradições, o golpe que reescreve lendas em forma de boletim de ocorrência, a seca que insiste em ser personagem reincidente e a política — ah, a política — sempre no papel de bicho-papão.

Talvez a grande lição do dia seja esta: o Brasil é um imenso livro de histórias, mas ainda não decidiu se quer ser lido como epopeia ou como sátira.

Enquanto isso, em Japaratuba no interior de Sergipe, os tambores do Cacumbi Mirim ecoam. E eu penso: talvez a salvação não esteja nos palácios, mas nas escolas que ainda sabem transformar crianças em guardiãs da memória.

Porque, no fim das contas, o futuro é sempre um folclore que ainda não foi contado.


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