CONTO : O Menino que Venceu a Depressão Lendo Livros

O Menino que Venceu a Depressão Lendo Livros



Por Antônio Glauber Santana Ferreira — Japaratuba-SE


Diziam que Miguel tinha apenas doze anos, mas às vezes parecia carregar cem nas costas.
A tristeza morava dentro dele como um inverno teimoso que se recusa a ir embora, mesmo quando o calendário insiste em anunciar primavera. Seus dias eram cinzentos, frios, silenciosos — e ninguém percebia que, por trás daquele sorriso tímido, havia um pequeno terremoto pedindo socorro.

Miguel acordava, estudava, ajudava a mãe… mas tudo parecia acontecer debaixo d’água.
Os sons chegavam abafados.
Os sonhos, distantes.
A alegria, desaparecida.

Até que, numa tarde chuvosa, se escondeu na biblioteca da escola — não porque gostava de livros, mas porque queria fugir do barulho do mundo.
E foi então que um livro, esquecido na última prateleira, caiu sozinho, como se tivesse pulado na direção dele.
O título dizia: "O Menino que Conversava com Estrelas".

Miguel abriu o livro sem esperar nada.
Mas, ao virar a primeira página, algo aconteceu: o coração dele — aquele que estava cansado, lento, triste — bateu um pouco mais forte.
Cada frase era como uma pequena lanterna acesa dentro de uma caverna escura.
As palavras caminhavam até ele com passos delicados e diziam:

“Você não está sozinho.”
“Seu silêncio também fala.”
“Há estrelas mesmo atrás das nuvens.”

E Miguel acreditou.

Nos dias seguintes, voltou à biblioteca.
Leu histórias de heróis improváveis, de fadas corajosas, de crianças que descobriam mundos escondidos dentro de gavetas.
E em cada história, Miguel encontrava um pedaço de si mesmo.

A tristeza não desapareceu de uma vez — depressão é tempestade que não se combate com um único guarda-chuva.
Mas, pouco a pouco, os livros foram ensinando Miguel a respirar novamente.
Foram abrindo janelas no quarto escuro que ele carregava por dentro.
Foram colocando cores onde antes havia apenas sombras.

Miguel passou a sorrir mais, a conversar mais, a se olhar com mais carinho.
Um dia, enquanto fechava mais um livro, percebeu algo que o fez tremer por dentro:

Ele já não sentia o peso de cem anos nas costas.
Talvez vinte, talvez dez… talvez apenas os doze que realmente tinha.

A depressão não foi embora para sempre — mas perdeu o domínio sobre ele.
Porque Miguel descobriu que, quando tudo parece desabar, um livro pode ser a mão que nos puxa de volta para a superfície.

Hoje, Miguel cresceu.
Virou escritor.
E em todas as suas histórias existe, escondida entre as linhas, uma mensagem silenciosa destinada a qualquer coração cansado que venha a lê-las:

“Eu também já estive no escuro.
Mas encontrei uma luz.
Ela se chamava leitura.”

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