Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 12 de novembro de 2025
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 12 de novembro de 2025
Por Antonio Glauber Santana Ferreira — Japaratuba-SE
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O dia 12 de novembro acordou com cara de panela de pressão: temperatura alta, barulho de indignação e o cheiro tostado da paciência do povo virando fumaça. Em Aracaju, cerca de cem manifestantes decidiram que a prefeitura precisava de um pouco de “arejamento cívico” e entraram no auditório como quem invade o próprio coração para fazer um transplante urgente. Pediam, entre tantas dores acumuladas, um hospital neurodivergente — porque há gente que precisa de cuidado, enquanto há governo que precisa de vergonha. O prédio da prefeitura, coitado, até tentou fingir que não estava vendo, mas as paredes tremeram quando ouviram: “Queremos dignidade!” E dignidade, minha gente, não aceita parcelamento.
Nos bairros Lamarão, Japãozinho, Coqueiral e Santa Maria, o grito tomou forma de torrente — a voz do povo virou rio em cheia, arrebentando as comportas da burocracia. Era como se a cidade inteira suspirasse: “Ou me tratam, ou eu derreto.” E Aracaju, com seus corredores cheios de pastas engomadas e promessas caducas, ficou ali, olhando para o espelho rachado da própria omissão.
Enquanto isso, do outro lado do Brasil, um adolescente prodígio acendia lâmpadas de esperança. Caio Temponi, um dos cem jovens mais brilhantes do planeta — um cometa acadêmico cortando o céu da mediocridade — apareceu para o 2º dia do Enem distribuindo dicas como quem reparte luz num país que vive apagando velas para rezar. Com 18 aprovações no bolso, duas graduações nas mãos e os sonhos nos ombros, o menino parecia uma usina intelectual movida a café, curiosidade e vontade. Ele estudava Direito, Matemática e, de quebra, estudava o país, esse labirinto onde a inteligência é tratada como milagre e não como direito.
Caio falava aos estudantes como um maestro diante de uma orquestra ansiosa, tentando afinar violinos feitos de nervos e ansiedade. E eu juro que ouvi o Enem, aquele monstro de sete cabeças, suspirar e dizer: “Com esse menino, até eu fico mais fácil.”
A inflação, por sua vez, resolveu fazer uma gentileza rara: desceu um degrau. Puxada pela queda na energia e nos combustíveis, ela deu um passo para trás como quem reconhece que exagerou no drama. Mas não se enganem: a danadinha é atriz de novela das oito — dramática, imprevisível e sempre pronta para reaparecer do nada com um plot twist.
E do outro lado do planeta, os EUA viveram um momento histórico: encerraram a produção da moeda de um centavo depois de 232 anos. O último centavinho — cansado, enrugado, desvalorizado e com complexo de insignificância — foi cunhado na Filadélfia. Imagino o pobre coitado saindo da máquina como quem se despede do mundo:
“Obrigado, América. Eu fiz o que pude. Não fui muito útil, mas fui honesto.”
O tesoureiro Brandon Beach até tentou dar um ar solene ao momento, mas vamos combinar: era só um funeral de cobre. Barato, mas simbólico. Kristie McNally, diretora interina da Casa da Moeda, ainda disse que “o legado do centavo continua”. Continua onde? Talvez perdido num sofá, caído no chão de carro, ou guardado no fundo de um cofrinho que ninguém lembra onde fica.
Mas há beleza nesse adeus. O centavo, com seu valor menor que o custo de existir, é a metáfora perfeita do que muita coisa se tornou: caro para produzir, inútil para usar e romântico demais para jogar fora. Os Estados Unidos acharam caro manter o centavo; nós, brasileiros, ainda achamos barato nos manter calados.
No fim do dia, entre protestos, prodígios, preços em queda e moedas aposentadas, ficou aquela sensação de que o mundo anda mesmo é precisando de manutenção. As ruas pedem cuidado, os jovens pedem futuro, o bolso pede alívio e a história pede coragem.
E eu, aqui de Japaratuba, fecho esta crônica com o coração em ritmo de maré: ora cheio de esperança, ora seco de realidade. Mas sempre vivo — porque escrever, afinal, é o jeito mais bonito de não desistir.