Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 03 de novembro de 2025
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 03 de novembro de 2025
Por Antonio Glauber Santana Ferreira — Japaratuba-SE
---
O dia amanheceu com o rádio soluçando em dó menor. O Brasil acordou órfão de um som, de uma esquina, de um acorde que fazia a alma dançar mesmo quando a vida desafinava. Morreu Lô Borges — e com ele, uma parte do país que ainda acreditava que a poesia podia caber dentro de um violão. Belo Horizonte chorou acordes em tom de despedida; o Clube da Esquina virou cemitério de saudades. A cidade, antes feita de becos musicais, amanheceu muda — como se os sinos das igrejas tivessem esquecido a melodia da segunda-feira.
Lô foi embora como quem desliga o amplificador de um tempo em que a MPB era a trilha sonora da esperança. As notas do seu violão se dispersaram pelo ar, virando vento mineiro e lembrança líquida. “O trem azul” partiu de vez, levando passageiros invisíveis — Milton, Beto, o povo e até as manhãs de domingo que nunca mais serão as mesmas. Cada verso dele era um pedaço de Minas transformado em eternidade, e agora o Brasil tenta aprender a viver sem essa harmonia no coração.
Enquanto o Brasil lamenta o silêncio, Sergipe escuta outro tipo de ruído: o som metálico das escavadeiras vendendo o próprio futuro. A única mina de potássio do país — esse tesouro escondido sob o chão sergipano — foi vendida. Trocaram o sal do progresso pelo pó da promessa. Dizem que virão “investimentos”, “eficiência” e “produtividade” — palavras tão polidas que escondem o minério da verdade. O potássio, coitado, virou símbolo de uma nação que cava o chão, mas não planta dignidade.
O solo sergipano, cansado de tanto carregar esperanças, suspira. Ele sabe que o lucro não tem sotaque nem bandeira; tem cofre. E o povo, acostumado a ser paisagem, observa o desfile das máquinas com a mesma paciência de quem assiste ao tempo corroer o que era seu.
Do outro lado do planeta, o Afeganistão treme — não de medo, mas de dor. Um terremoto de magnitude 6,3 transformou a terra em monstro. As casas viraram poeira, e a poeira virou lamento. Vinte mortos, mais de seiscentos feridos… e um mundo que assiste da janela digital como se fosse apenas mais um vídeo na rolagem infinita. O chão se abriu, e com ele, mais uma fenda no coração da humanidade.
Talvez o planeta esteja cansado de nós. Cansado de ver gente vendendo o que é sagrado, de ouvir mentiras embaladas em discursos de progresso, de sentir o peso da indiferença humana. A Terra treme porque nós já não trememos diante da dor do outro.
Lô Borges se foi — e o silêncio dele ecoa mais alto do que o barulho do mundo.
A mina foi vendida — e com ela, a esperança mineral.
O Afeganistão desabou — e com ele, um pouco da nossa humanidade.
No fim das contas, o dia 3 de novembro de 2025 foi uma sinfonia triste, com três movimentos: um acorde de despedida, um solo de ganância e um tremor de compaixão esquecida.
E nós, plateia cansada, aplaudimos em silêncio — esperando que alguém, em algum lugar, ainda saiba tocar a melodia da esperança.
“O que era sonho, virou tristeza, o que era canto, virou silêncio.”
Mas o eco de Lô Borges ainda sussurra entre os ventos de Minas e os sertões de Sergipe:
a arte nunca morre, apenas muda de endereço.