Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 24 de novembro de 2025
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre as notícias do dia 24 de novembro de 2025
Por Antonio Glauber Santana Ferreira — Japaratuba-SE
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A segunda-feira amanheceu em Aracaju com cara de bicicleta enguiçada: a cidade até tem ciclovias, mas parece que elas foram desenhadas por alguém que pedalou com os olhos vendados e o coração distraído. São quase 90 km de promessa, mas o ciclista segue tropeçando em buracos, desvios e paradas obrigatórias que mais parecem armadilhas colocadas pelo próprio asfalto — um asfalto ciumento, desses que dizem: “Vai a pé, criatura! Bicicleta não!”
Enquanto isso, em Estância, o drama bateu à porta como um trovão fora de hora. Uma mãe, perdida entre descuidos e tempestades internas, deixou os filhos sozinhos — e o medo entrou pela janela como um ladrão silencioso. A criança que ingeriu remédios controlados virou símbolo de toda fragilidade que fingimos não ver. A realidade, essa senhora rabugenta, nos cutuca e sussurra:
— “Cuidem dos seus pequenos, antes que o mundo os engula.”
E no palco político, o espetáculo continua. Bolsonaro segue preso, agora com a tornozeleira como protagonista de um drama tragicômico. A audiência de custódia manteve a decisão, e o Brasil, sempre ele, sentou na plateia com o balde de pipoca emocional cheio, murmurando entre risos e suspiros:
— “Eu já vi essa novela. Falta só o próximo capítulo.”
Mas o golpe mais doloroso do dia veio lá da Jamaica, carregando o cheiro quente do reggae e a brisa de um Caribe que abraça. Jimmy Cliff nos deixou. Aos 81 anos, partiu após uma convulsão, e o planeta parece ter ficado um pouco mais silencioso, como se alguém tivesse diminuído o volume da alma do mundo.
Seus acordes agora ecoam no infinito, onde cada estrela vira palco e cada nuvem, plateia.
O reggae chorou.
O vento afinou a voz.
E nós, aqui, sentimos a ausência como uma nota fora da música da vida.
No fim, o dia 24 foi um quadro impressionista: traços tortos de mobilidade urbana, manchas escuras de abandono, pinceladas cômicas de política e um enorme risco de saudade desenhado no meio — Jimmy Cliff, que agora canta para a eternidade.
E eu, de Japaratuba, fecho esta crônica respirando fundo, porque o mundo anda tão acelerado que até a bicicleta cansada de Aracaju suspirou:
— “Se não der para pedalar, pelo menos contem histórias.”