Crônica do Professor Antonio Glauber sobre o “Clube da Esquina” — o disco que ensinou o Brasil a sonhar em tom menor
Crônica do Professor Antonio Glauber sobre o “Clube da Esquina” — o disco que ensinou o Brasil a sonhar em tom menor
Por Antonio Glauber Santana Ferreira — Japaratuba-SE
---
Era 1972, e o Brasil ainda caminhava tonto entre sombras e censuras. Mas, de repente, em uma esquina de Minas Gerais, dois meninos resolveram conversar com o infinito. Milton Nascimento e Lô Borges — um negro de voz celestial e um branco de tênis gastos — abriram o portão da música brasileira e deixaram o vento entrar. E desse encontro nasceu o “Clube da Esquina”, o disco que não se ouve com os ouvidos: se ouve com o peito, com a memória e com as lágrimas.
Cada faixa é uma estrada que dobra o tempo. “Trem Azul” não é apenas uma canção: é um vagão de saudade cruzando o entardecer da alma. “Cravo e Canela” é o cheiro da juventude misturado com o perfume da utopia. “San Vicente” é oração e exílio, grito e abraço. E “Tudo que Você Podia Ser” é o espelho que até hoje pergunta a cada um de nós: “E você, o que fez da sua promessa de ser alguém melhor?”
O “Clube” não é clube — é abrigo. É o lugar onde as notas se descalçam para entrar em casa, onde o piano conversa com a montanha, onde a voz de Milton parece rezar pelos sonhos perdidos de um país cansado. E mesmo com o tempo soprando décadas sobre o vinil, ele continua novo — porque a verdadeira música não envelhece: amadurece.
“Clube da Esquina” não é só um disco. É um país paralelo, onde as melodias plantam esperança, e as guitarras dialogam com os sinos de igreja. É um mapa emocional do Brasil que ainda acredita na beleza.
Talvez por isso, ao ouvi-lo, a gente sinta vontade de voltar para casa — mesmo sem saber exatamente onde ela fica.
Há discos que a gente escuta; outros, a gente habita. E o “Clube da Esquina” é esse lugar sagrado onde a alma do Brasil pendurou seu violão e foi descansar.