Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 18 de novembro de 2024

Crônica do Professor Antônio Glauber sobre as notícias do dia 18 de novembro de 2024

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Por Antônio Glauber Santana Ferreira - Japaratuba-SE

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Se as estradas falassem, a SE-100 no povoado Aningas, em Pirambu, gritaria em desespero. Lá, a cratera, que mais parece um abismo conspirando com a gravidade, desafia carros e caminhões como uma boca faminta, sempre à espera do próximo descuido. Os moradores, alquimistas da paciência, tentam transformar indignação em soluções que nunca chegam. Enquanto isso, a rodovia que liga Pirambu à Pacatuba se tornou uma metáfora asfaltada da gestão pública: cheia de buracos e riscos de acidentes.

Já em Aracaju, a cidade se veste de gala com 10 milhões de pontos de luz no Parque Augusto Franco, ou Parque da Sementeira para os íntimos. Dez milhões! Quase como se cada lâmpada fosse uma tentativa de ofuscar os apagões diários da saúde e educação. Entre o brilho natalino e as trevas cotidianas, a ironia dança na ponta das estrelas decorativas.

E falando em brilho, mais de 100 empresas se reuniram na feira da beleza, onde a vaidade vira mercado e o mercado vira espetáculo. Workshop de design de unhas? Um campeonato? O que falta agora é uma disputa por quem consegue esconder mais os calos do trabalho duro. É curioso: enquanto as unhas ganham glamour, as mãos que constroem o país continuam invisíveis.

Na Câmara de Vereadores de Aracaju, o tema foi a segurança dos carros elétricos. Um debate tão futurista quanto desconectado da realidade de quem ainda sonha em ter um carro... qualquer carro. Enquanto uns discutem baterias, outros se preocupam com a comida que falta na mesa.

No cenário político, o ex-deputado federal constituinte o sergipano José Queiroz da Costa foi homenageado em sua despedida final. Queiroz fez história, dizem. Mas, ao lado das memórias, paira o espectro da pergunta incômoda: quantos dos atuais políticos terão lágrimas sinceras em suas despedidas?

O G20 trouxe um fio de esperança com a promessa de taxar os ultrarricos. Ah, os ultrarricos, essas criaturas míticas que vivem num Olimpo econômico. Se a declaração fosse uma peça de teatro, o Brasil sairia como protagonista, clamando por justiça fiscal. Mas, como todo bom roteiro, há antagonistas: Milei recuou em partes, mas não sem mostrar os dentes. Já Trump, do alto de sua torre de *tweets*, ameaça transformar os Estados Unidos num imenso campo de deportação, onde a liberdade deixa de ser um sonho e vira pesadelo.

Enquanto isso, manifestantes em São Cristóvão protestam contra uma ordem de despejo. Parece que, para eles, nem a promessa do G20 de combater a fome e a pobreza chegou a tempo. Nas ruas, o eco de suas vozes lembra que, sob o manto natalino da civilização, ainda pulsa a brutalidade.

E assim, seguimos. Num Brasil que se ilumina para o Natal, mas tropeça nas crateras do abandono. Num mundo que promete justiça para os pobres enquanto acaricia os poderosos. Entre luzes e buracos, entre unhas polidas e mãos calejadas, entre promessas e ações, fica a certeza de que a realidade, muitas vezes, é mais ácida que a metáfora.

Fiquemos atentos, porque as luzes de Natal sempre apagam em janeiro, mas os buracos – os das estradas e os da sociedade – continuam lá.

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